FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (PLE): UMA ABORDAGEM A PARTIR DA FORMAÇÃO, CRENÇAS E EXPERIÊNCIAS.

Marlon Correa Amaral

O presente resumo tem como finalidade apresentar o percurso de uma dissertação em andamento no Programa de Mestrado em Letras da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA, no qual visa estudar a formação de professores de Português como Língua Estrangeira (doravante PLE). A pesquisa surge através de um grupo de estudos, no qual se propôs estudar o tema de forma a dar visibilidade ao PLE, devido ao grande fluxo migratório, o deslocamento forçado, as aberturas das Universidades Federais do Brasil para alunos estrangeiros e os fatores políticos e econômicos.

Neste estudo adota-se a nomenclatura PLE, pois irá se investigar a oferta do ensino da língua portuguesa como uma nova língua para falantes de outros idiomas. Pretende-se, então dar um foco a formação de professores que ministram aulas de português a alunos que não falam esta língua como sua primeira. 

De acordo com esse cenário e ao longo das discussões, contatos com dissertações e teses, constou-se que o ensino de PLE é uma atividade estreita, pois em geral ele é ensinado em Universidades Públicas Federais e em Centros Culturais Brasileiros espalhados pelo mundo, logo esse fato faz-se perceber que a formação de professores que atuam ensinando o PLE não é específica, em geral realizada por professores formados em outras línguas estrangeiras, nativos de português. 

Desse modo, parte-se do pressuposto de que professores de PLE aprenderam o português como “língua materna”, entretanto ensinam ela como língua estrangeira, e neste sentido, vale observar que são poucos os cursos de formação em Letras habilitação em Língua Portuguesa no Brasil que se importam com uma formação voltada para o ensino/aprendizagem de PLE. 

Estas primeiras informações buscam delimitar o objeto de estudo desta pesquisa, no qual procura-se investigar no âmbito da Linguística Aplicada e teorias de Formação de Professores as Crenças de docentes que atuam com PLE em contexto mundial universitário. 

Assim, propõem-se realizar uma pesquisa de acordo com a seguinte questão problema: Quais são as crenças em relação ao processo de ensino/aprendizagem e atuação como professor de PLE em contexto universitário? Outras questões também podem ser viabilizadas: Qual é o perfil de um professor de PLE a partir de suas Crenças e Experiências? Qual a relação do professor com essa língua portuguesa não-materna que ele ensina? Considerando que ser nativo do português não garante uma formação eficiente para ensiná-la. Qual a formação deste professor, além de ser nativo? Qual a concepção de língua e abordagem esse professor acredita? Quais as dificuldades em ensinar PLE? Qual seria o perfil do professor de PLE ideal? Levando em consideração documentos oficiais de uma licenciatura específica em português língua não materna. 

Assim, a partir das perguntas que norteiam essa pesquisa chegou-se no objetivo geral que é: Elaborar um inventário sobre crenças trazidas por professores de PLE em relação ao seu ensino/aprendizagem e atuação docente. Para atingir este objetivo de pesquisa irá realizar-se os objetivos específicos que são: a) Realizar um levantamento bibliográfica sobre Linguística Aplicada, Formação de Professores de Língua Estrangeira, Formação de Professores PLE e Crenças b) Traçar o perfil dos professores que ensinam o PLE por meio de uma questionário semiestruturadas c) Aplicar entrevista semiestruturados a fim de coletar narrativas acerca das crenças desses professores que atuam com PLE d) Identificar, descrever e analisar as crenças de professores de PLE com o objetivo de elaborar um inventário de crenças identificadas. 

Ao que diz respeito aos aspectos metodológicos, a pesquisa será de caráter qualitativo e utilizar-se-á do método pesquisa narrativa (PAIVA, 2019), a fim de coletar os dados para análise e interpretação. Quanto ao contexto e participantes, a pesquisa será realizada com professores que atuam em cursos de português como língua estrangeira no Brasil, França, Itália e Coreia do Sul em contexto universitário. Chegou-se a esses sujeitos através de um grupo de rede social, no qual caracteriza-se pelo seu espaço formativo, mediante interações e relações que professes de PLE expõem nesta comunidade online. 

Sobre os instrumentos para a coleta de dados serão utilizados: a) entrevistas semiestruturadas b) questionários estruturados c) análise documental das ementas dos cursos ministrados pelos professores PLE no país que eles atuam. De posse dos dados, serão analisadas as narrativas transcritas, na qual as perguntas da entrevista terão o propósito de identificar as crenças em relação ao ensino/aprendizagem e a atuação dos professores investigados. 

A pesquisa pretende utilizar do arcabouço teórico acerca da formação de professores de línguas com Almeida Filho (2004, 2007, 2011); Vieira-Abrahão (2008, 2010); Leffa (2001, 2005, 2006), Linguística Aplicada com Moita Lopes (1994, 2006); Rajagopalan (2006) e Crenças com Barcelos (2001); Silva (2005; 2010; 2011). 

Portanto, a pesquisa descrita até aqui, elege a Linguística Aplicada como teoria linguística do escopo deste estudo, seu caráter qualitativo permite investigar as crenças de professores PLE em atuação no Brasil e em alguns países no exterior. 


REFERÊNCIAS 
ALMEIDA FILHO, J. C. P. (Org.) O professor de Língua Estrangeira em Formação. Campinas: Pontes, 1999.

____________. O professor de língua(s) profissional, reflexivo e comunicacional. In: Revista Horizontes da Linguística Aplicada, Ano 3, n. 1, pp. 7-18. Brasília: UnB, 2004.

____________. Fundamentos de Abordagem e Formação no Ensino de PLE e de Outras Línguas. Campinas: Pontes Editores, 2011.

BARCELOS, A. M. F. Maneiras de compreender Linguística Aplicada. In Revista Letras, v. 2. pp. Santa Maria: Editora da UFSM, 1991.

____________. Crenças sobre aprendizagem de línguas, Lingüística Aplicada e ensino de línguas. In: Linguagem e Ensino, vol. 7, n.1, pg.123-156. Pelotas: UCPel, 2004.

LEFFA, V. J. Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras. In: LEFFA, V. J. (org.). O professor de línguas estrangeiras; construindo a profissão, v. 1, p. 333- 355. Pelotas: UCPel, 2001.

MOITA LOPES, L. P. Pesquisa interpretativista em Lingüística Aplicada: a linguagem como condição e solução. In: D.E.L.T.A., v. 10, n. 2, p. 329-338. São Paulo: PUC-SP, 1994.

SILVA, K. A. Crenças e aglomerados de crenças de alunos ingressantes em Letras (Inglês). Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas, 2005.

____________. Crenças no ensino-aprendizagem e na formação de professores de línguas: Delimitando e atravessando fronteiras na Linguística Aplicada Brasileira. In: SILVA, K. A. (Org.) Crenças, Discursos & Linguagem: Volume I. Campinas: Pontes Editores, 2010.

Almeida M. M. P. de. Entre o egresso ideal e o egresso real da formação inicial de português como língua adicional: experiências, crenças e identidades. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, Universidade de Brasília, Brasília, 2014, 2014.

Comentários

  1. Parabéns, Marlon, pela temática de seu trabalho de pesquisa! Li seu texto com atenção e, como já mencionou, está em andamento sua pesquisa. Pelas suas leitura e observações feitas sobre a "FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA (PLE)", o que julgas ser um diferencial, além do diploma é claro, entre um professor de PLE licenciado e um não licenciado para que o processo de ensino-aprendizagem se concretize?

    Valdimiro da Rocha Neto.

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  2. Olá, querido. Sabemos que a formação do professor é de suma importância para a sua atuação em sala de aula. Ser licenciado pleno irá compor um profissional que vai além de saber a língua que ele ensina, logo ter uma licenciatura em letras habilitação em português trará estratégias para o ensino/aprendizagem da língua alvo, lembrando que a formação em PLE ainda é tímida no Brasil, mas caminhando a fim de formar docentes que atuem com imigrantes, refugiados, surdos e indígenas entre outros povos interessados em aprender o português como segunda língua.

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  3. Muito interessante a sua pesquisa, Marlon. Tendo em vista que você se propõe a trabalhar com crenças, gostaria de saber quais são, na sua opinião, as crenças linguísticas que poderão ser mais recorrentes entre os sujeitos da pesquisa.

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    1. Oi, Douglas, agradecido pelo interesse em meu texto. Então, a pesquisa ainda está em andamento os questionários ainda estão em construção para a identificação das crenças, entretanto já consigo prever algumas:
      - o contexto de aprendizagem, acredita-se que um individuo (estudante ou imigrante) residindo no Brasil tem um melhor aprendizado da língua;
      - Professores acreditam em um ensino motivacional e com propósitos comunicativos;

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